hy-brazil-volume-1Essa semana o site de cultura Spin publicou a compilação Hy Brazil Vol. 1, só com músicas de produtores brasileiros, de estilos que variam do Ambient ao Technobrega, do Dubstep ao impossível de ser classificado.

A compilação foi feita pelo carioca Chico Dub, curador do Festival Novas Frequências, que aliás é um outro festival incrível focado em música de vanguarda. O Chico também concedeu uma entrevista ao Spin, que traduzimos mais abaixo.

Vamos aproveitar a deixa para falar divulgar um pouco a produção brasileira nova e criativa, como uma Mixtape criada pelo produtor CESRV, só com novos sons da nova cena Bass nacional.

Hy Brazil Vol. 1: Fresh Electronic Music from Brazil

Quem quiser pode baixar a Mixtape no Sendspace.

Quem é quem?

Entre os destaques, a mistura de música brasileira, eletrônica e abstrata do Psilosamples, que lançou o álbum Mental Surf no ano passado. Muito bom também o som profundo do Pazes. Ele tocou no Sónar São Paulo em 2012 e tem seu EP Limbo disponível para download gratuito.

O Tropkillaz, parceria entre o experiente Zegon (Nasa) e Andre Laudz, explora graves e sub graves ao máximo, assim como o produtor paulistano CESRV, que trabalha samples de Jazz e Hip Hop com muita classe.  Curtiu outros sons? É só bater um Google, todo mundo nessa lista tem Soundcloud.

Entrevista de Chico Dub ao Spin

Nota-se que muitos dos artistas da compilação têm feito música por apenas alguns anos e muitos deles estão na faixa dos vinte anos de idade. Isso é um indicativo de que há uma nova geração de produtores de música eletrônica surgindo no Brasil?

Sim. De uma forma geral, com algumas poucas exceções, da metade dos anos 90 até a metade dos anos 2000 havia os produtores de drum n’ bass (Marky, Patife, Xerxes, Drumagick, bruno E, Marcelinho da Lua – a maioria deles afiliados ao selo Trama), o techno do Renato Cohen (da famosa Pontapé), e também alguns pioneiros da música experimental, como Anvil Fx. Então veio o Nego Moçambique com seu electro-funk analógico – um verdadeiro gênio – e o tech-house do Gui Boratto, que abriu portas com seu sucesso internacional e influenciou muitos produtores, como Mixhell, Database, Killer on the Dancefloor, The Twelves, Bonde do Rolê e Boss in Drama.

Os artistas na compilação fazem parte do que eu chamaria de uma secunda geração de produtores de música eletrônica. Mas eu acredito que mais importante do que o surgimento da própria cena seja são os meios de criação. Com o advento de equipamentos mais baratos, parece que todo mundo está fazendo música. Não apenas música para a pista de dança – que foi o briefing dessa entrevista – mas também para ouvir em casa / no fone de ouvido.

Na Europa e América do Norte nós não temos uma imagem precisa do que é a cena eletrônica brasileira. Tirando alguns grandes nomes em gêneros estabelecidos, como os que você mencionou, nós ouvimos coisas principalmente sobre funk carioca, e mesmo assim, é algo apresentado como exótico. Há algo que você possa citar como um movimento musical eletrônico em todo o Brasil, ou a cena está espalhada de forma geográfica (ou social)?

O Brasil é um dos principais criadores de música eletrônica no mundo. Há dezenas de super clubs e festivais absolutamente gigantescos em todo o Brasil. A seleção musical nesse circuito é em sua maioria house e psy-trance. Estamos falando de um ambiente com orientação extremamente comercial, como a EDM nos EUA, tem menos a ver com música e muito a ver com ver e ser visto.

Em outra mão nós temos estilos originais desenvolvidos em comunidades carentes – estilos que nós podemos chamar de nossa própria música eletrônica. Funk carioca no Rio e tecnobrega em Belém do Pará (um estado localizado na região Amazônica). Ambos os estilos sofrem preconceito da mídia tradicional e das pessoas de classes mais abastadas. Isso ainda acontece mesmo com a dominação do funk no país e mistura com outros estilos locais. Agora que uma boa parte das favelas do Rio estão pacificadas, pessoas de fora podem fazer festas até de madrugada, mas os moradores são proibidos de fazerem seus bailes.

O funk é a música popular do Rio. O mesmo acontece com o tecnobrega em Belém. E no meio disso você tem pessoas como as selecionadas para a compilação e festivais de música avançada.

Antonio Simas Xavier

Ilustração por Antonio Simas Xavier

Após ouvir muito sobre o funk carioca alguns anos atrás, eu fiquei surpreso em perceber que não havia muita influência na música aqui. Ainda é algo que se forte?

O funk carioca continua forte. É a música das pessoas no Rio. Mas é algo que que perdeu o interesse da grande mídia, uma vez que não está mais na moda na cena internacional – é triste mas é verdade. Pessoalmente, eu estou mais interessado na forma como ele se combina com outros gêneros globais de guettotech (tropical bass), como o moombahton, cumbia digital ou mesmo o trap.

Para sua apreciação do que está rolando por aqui agora, ouça MC Federado.

O Brasil parece ter uma reputação em ascendência devido a festivais como o Sónar São Paulo e o seu Novas Frequências. Que tipo de impacto estes festivais tiveram na cena da música eletrônica brasileira?

No Brasil nós não temos esse tipo de música sendo tocado na rádio ou na TV. Você pode ler sobre ela em revistas e o espaço para ela em jornais é ridiculamente pequeno. Você não pode comprar música internacional por preços razoáveis (taxas, taxas e mais taxas). Então há apenas a internet e os shows. Eu sempre digo que nós estamos vivendo o momento mais importante na história em relação a performances ao vivo. Então um festival como o Sónar traz toda uma infraestrutura com ele, que ajuda artistas a divulgar sua música e sua mensagem. Gang do Eletro, o melhor artista do tecnobrega, tocou no Sónar São Paulo e foi a Berlim depois disso. Ele ganharam até mesmo um prêmio conhecido na TV brasileira como melhor artista revelação de 2012 (Prêmio Multishow). E eles estão tocando no SXSW este ano. O talento do Psilosamples combinado com a exposição de mídia do Sónar São Paulo levaram ele a uma turnê na Europa. Um ano depois e você tem ainda mais artistas tentando entrar, trabalhando mais duro do que nunca para fazer boa música.